segunda-feira, 18 de maio de 2009

o que me atrai: tempestades.

ela sentou-se no meio fio. continuou a prestar atenção nos relâmpagos. do outro lado da rua ele prestava atenção na mesma coisa. "coisa linda!". ele sempre repetia isso quando mais um clarão rolava rapidamente no céu. coisa linda. coisa linda. coisa linda. ela não conseguia pensar em outra coisa. coisa linda. ela o observava de longe. o cabelo, o jeito que dançava, os olhos fechados. devia tá muito doidão. a blusa aberta, as sandálias, os braços abertos. parecia que queria engolir a chuva com um gole só. um trovão veio, ela estremeceu e rapidamente voltou pra realidade: ele nunca seria seu. levantou-se, pagou a cerveja e seguiu na chuva. chegou em casa e seus pés estavam pretos. graxa? enfim, tomou um banho gelado, comeu um sanduíche e lembrou-se dele quando ela falou que estava gorda e ironicamente falou: "vê como ela tá gorda!". deitou na rede. balançou-se um pouco e desejou uma cerveja - deve ser por isso que está tão gorda. acendeu um cirrago e lembrou que ele que tinha aumentado esse vício dela. lembrou de tudo que ele trouxe com ele. agora ela fazia mais as coisas sem pensar. "não sem pensar" - ele diria. ah! não sei. ela não sabia explicar, era assim e pronto. as pessoas sempre trazem alguma coisa. o telefone tocou. lentamente ela levantou e atendeu. aquela voz meio grossa e tensa, pelo adiantar da hora. "- alô?". ela gelou. dos pés a cabeça, as pontinhas do dedo também! "- oi, sou eu" respondeu com a voz trêmula. ele sorriu: "eu sei.". disse que ligou pra saber como ela estava, já que nunca mais tinham conversado. contou muitas coisas, falou dos desenhos, dos livros, dos filmes, do trabalho, da faculdade, do café, dos cigarros e enfim dos relâmpagos. lembrou-se de uma frase de um livro: "difícil não gostar de um homem que não apenas percebe as cores, mas fala delas." se deram o luxo de sentir um pouquinho de saudade. de vontade. o dia ia amanhacer já já mesmo. "que tal uma praia?" - sempre vinha dele. passou no supermercado e pegou umas cervejas. ele levou uns cigarros. e a conversa fluiu normalmente. até que ele pegou em sua mão, apertou daquele jeitinho. ela recordou de tudo. de ficar acordado pela madrugada, da mania dele de não explicar nada direito, sempre viajando muito. da delicadeza, do jeito dele de dar banho nela, passando sabão em cada parte do corpo. "meu deus, de onde ele saiu?". quebrando o silêncio ele perguntou: "pra que tão linda?" e delicadamente foi chegando perto e beijando o cantinho da boca dela, e ela pedindo para parar, porém não saiu do lugar. ele ainda perguntou, mesmo sabendo a resposta: "é pra parar?" ela sorriu. ele já sabia. o beijo veio logo em seguida. junto com os primeiros raios de sol que bateram em seu rosto delicadamente e ela percebeu que tinha acabado dormindo deitada na rede. levantou-se, calçou os chinelos e foi para a cama desejando que o sonho continuasse. mas eles nunca continuam.

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